Sunday, April 1, 2012

Evento da Qualimpor em 29 de Março

   A Qualimpor é uma importadora de vinhos portugueses, propriedade da família que controla as vinícolas representadas pela empresa: a Herdade do Esporão, a Quinta do Crasto e, mais recentemente, a Quinta das Murças. O grupo tem investimentos anuais superiores a 10 milhões de euros (dados de 2008), e Esporão tem o maior vinhedo de Portugal (550 ha), com a vinicultura a cargo de David Beverstock, um simpático australiano com 25 anos de experiência na manipulação de castas portuguesas. No sítio da importadora o internauta encontra fichas técnicas de todos os vinhos, de modo que não adianta repeti-las aqui.
À esquerda João Roquette, proprietário da Qualimpor.


À direita David  Beverstock , responsável pelos vinhos da Herdade do Esporão.


   Este ano a Qualimpor não estará presente na Expovinis, mas nem por isso deixou de brindar seus consumidores: por intermédio dos representantes regionais, tem promovido degustações para grupos fechados de até 15 pessoas no Consulado Geral de Portugal em São Paulo. Vários grupos são reunidos em um dia, em eventos descontraídos, de muita camaradagem e onde a principal ocupação é brindar os sabores da terrinha. Em São Carlos, a Mercearia 3M organizou uma van com diversos clientes que encontraram uma brecha em seus horários para se deslocar a São Paulo em plena quinta-feira. Este pobre e esforçado escriba, claro, esteve cafungando algumas taças por lá.
À esquerda Idinir Janduzzo, proprietário da Mercearia 3M, organizador da caravana ao Consulado. Ambos tentando sorrir e esconder os dentes roxos; o primeiro com pouco sucesso e o segundo com apenas algum, à custa da cara de bobo.

  Juntas, as vinícolas produzem uma vasta gama de vinhos (e ótimos azeites, no caso da Esporão) para todos os gostos e para todos os bolsos. Os vinhos mais simples, Monte Velho (pela Esporão) e Flor de Crasto primam pela fruta. São fáceis de beber; seus taninos leves tornam-nos agradáveis para ser desfrutados inclusive por aqueles pouco afeitos à força dos tintos sul-americanos.

   Na outra ponta, o Quinta do Crasto reserva 2009 é intenso, equilibrado e com ótimo retrogosto, o que contribui para sua persistência na boca: após engolir o vinho tem-se a nítida sensação de que ele continua lá. Pela Esporão, comparecem o Private Selection, versões branco e tinto. Macios, equilibrados, enchem a boca e o nariz; mesmo este que vos escreve, com todo seu desvio de septo, não ficou imune a tais encantos.
Roger Silva, da Qualimpor: apresentou os melhores vinho da Quinta do Crasto.

hors concours que ficou em segundo (risos)

   Roquette & Cazes e Xisto - Roquette & Cazes são dois vinhos nobres da Quinta do Crasto produzidos do mesmo parreiral, onde o Roquette & Cazes é o vinho mais comum. Mas, nos anos em que a qualidade do vinho é muito acima do normal, os enólogos Daniel Llose e Manuel Lobo declaram que o produto se chamará Xisto - Roquette & Cazes - e não é apenas a qualidade que vai às alturas...
Xisto - Roquette & Cazes: muito novo, embora já complexo e elegante, não mostra absolutamente nada de seus 15,5°.

   O mais engraçado foi a percepção trocada entre os participantes de que o Crasto Reserva, por um terço do preço, estava melhor. Isso é explicado pela própria ficha técnica do Xisto: consumir entre 2011 e 2025. Ora, um vinho apto a guarda tão longa seguramente ainda não evoluiu tudo o que pode, e melhorará muito com os anos. Como sua produção é extremamente limitada (apenas 1.600 garrafas foram produzidas em setembro de 2011), não existiam mais garrafas de safras anteriores para se degustar no evento. Assim, assistimos a um verdadeiro infanticídio enólico de algumas garrafas para que o público não deixasse de tomar contato com um dos ícones comercializados pela Qualimpor.
   A meu ver, não há dúvida de que para o grande público o Crasto Reserva parece um vinho melhor do que o Xisto. Também tive essa impressão, e grafei melhor em itálico porque acho que o grande público tende a apreciar mais um vinho com maior vivacidade e presença, deixando passar detalhes - as tais notas - com as quais as pessoas não estão tão acostumadas nem tão bem treinadas para reconhecer. E o Xisto precisa de mais tempo... Sempre concordarei que o melhor vinho é o vinho que gostamos mais. Mas até aí estamos falando em gosto (e foi só disso que tratei no início do parágrafo). Nós, adoradores de vinho - eu inclusive -, precisamos sempre nos reciclar para podermos perceber bem o que os vinhos nos oferecem de melhor.
À direita Tomás Roquette, que participa da elaboração dos vinhos na vinícola da família, a Quinta do Crasto.

À guisa de conclusão

   A Qualimpor é, segundo levantamentos, uma das importadoras que pratica as margens relativamente mais baixas dentre as principais casas do setor, ficando em um honroso terceiro lugar. Isso torna seus vinhos extremamente atrativos no quesito preço, embora, para fazer por merecer o nome deste blog, eu ainda tenha uma reclamação: os produtores dos vinhos são também os proprietários da importadora. Isso quer dizer que eles ganham em todas as fases da cadeia. Ora, se o primeiro colocado da lista citada acima nos mostra que tem um ganho satisfatório praticando margens vinte por cento inferiores, e nem produz os vinhos que importa, parece-me que a Qualimpor poderia apertar um pouco sua margem - ainda preservando o mesmo ganho dos produtores! - e trazer seus vinhos com um preço um pouco mais em conta. Com a qualidade que tem, e os preços devidamente alinhados, os vinhos portugueses colocariam em cheque todos - absolutamente todos - os vinhos chilenos e argentinos que estão em nosso mercado. Eu gosto muito dos vinhos dos nossos vizinhos, mas alguém está exagerando no preço. Bem, essa é conversa para outra ocasião.

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