Sunday, June 17, 2012

A noite dos Barolos sanguinolentos

   Quem tem mais de 40 anos poderá lembrar-se do antigo seriado de faroeste e ficção científica James West, que passava na tv durante os anos 70. O que talvez não esteja lembrado é que todos os episódios tinham o título começando por "The Night of...". Por outro lado, sanguinolento, além de coberto de sangue, também tem o significado de feroz. E foi isso que experimentamos na noite do dia 16: três potentes e "ferozes" Barolos... muito embora a epopeia tenha começado à luz do dia. Sim, porque abrimos os exemplares às 14:30 para degustá-los a partir das 20:30, estratégia que revelou-se acertada.

   Do começo: como o Endrigo e a Vânia estavam com um Marchesi di Barolo Cannubi 2004 e secos para secá-lo (sic) até a última gota, lançaram-me um desafio. Eu tinha apenas um humilde Beni de Batasiolo, também 2004 e, cochichando com o Flávio do Vinhobão, Brunellista de nascença e Barolista de primeira hora (rs), ouvi dele a disposição de apresentar um Cogno Cascina Nuova 2007 para uma refrega.
Barolos Beni de Batasiolo (13,5% de álcool) e Marchesi di Barolo Cannubi (14,5%), ambos 2004.

   Conhecedor do caminho das pedras para degustar um bom vinho europeu, o Flávio sugeriu que todos fossem abertos horas antes. Abri os que estavam comigo às 14:30, quando retirei um dedo (ok, um dedo e meio) de cada garrafa, para aumentar a área de troca de ar e fui degustando-os lentamente até às 16:00, entre uma leitura e outra. Inicialmente muito fechados, foram transformando-se agradavelmente até o último gole, e eu cada vez mais ansioso para o que viria depois. Vamos chegar lá.

   Às 20:00 chegaram o casal Endrigo e Vania, devidamente recebidos com um Nemorino, da I Giusti e Zanza, a título de "abertura dos trabalhos". Aqui, um parêntese. A I Giusti e Zanza é uma vinícola que produz uns poucos supertoscanos e está situada na Comuna di Fauglia, na província de Pisa. Seus principais vinhos, Nemorino, Belcore e Dulcamara têm seus nomes retirados da ópera burlesca O Elixir do Amor (L'elisir d'amore). Nemorino é um simples aldeão que se enamora por Adina. Nemorino é o vinho mais simples da I Giusti e Zanza, e embalou nossos primeiros goles enquanto o Flávio não chegava. Mais um pouco a campainha toca e lá está ele, Barolo em uma mão e na outra uma panela contendo um delicioso carré de cabrito que ficou ainda melhor acompanhado pelos vinhos.

Nemorino, corte de 60% Syrah, 30% Sangiovese and 10% Merlot, da I Giusti e Zanza.

   Conhecedor dos vinhos que seriam degustados, o Flávio apresentou-os na ordem do mais leve ao mais encorpado: primeiro o Batasiolo, depois o Cascina e finalmente o Cannubi. A diferença estava de fato perceptível, embora o Cannubi estivesse - ainda - um pouco fechado... Particularmente, senti um problema: a ausência de um boi de piranha chileno ou argentino para fazer o contraponto. Explico: na opinião do Flávio, qualquer um dos Barolos era mais encorpado do que um vinho sul americano. Se tivéssemos aberto um, o padrão de comparação seria mais fácil. Como estávamos bebendo apenas vinhos italianos, senti certa dificuldade em resgatar minha "memória degustativa" para fazer a comparação. Coisas de iniciante, seguramente. O que pode-se assegurar é que a ordem estava realmente correta e foi surpreendente observar como, com seis horas de decantação, os vinhos transformaram-se e continuaram evoluindo. O Nemorino ficou de lado, para voltar à baila quando os Barolos tinham acabado e... outra surpresa! Como evoluiu ele também! 
Cogno Cascina Nuova 2007 (14,5%).

   O evento estendeu-se até 1:30, o que significa que por volta da 1:00 ainda tínhamos Barolos nas taças. E estavam todos muito, muito bons. Até porque o Flávio vai analisá-los com muito mais competência no Vinhobão, e dados meus compromissos com viagem, vou sugerir ao leitor uma passada por lá.

2 comments:

  1. Grande postagem Carlão! Descrição melhor para a noite não poderia ser feita. Concordo plenamente com você: Os Barolões estavam sanguinolentos! E o Nemorino, depois de horas aberta, uma bela surpresa! Obrigado pela noitada e referência ao Vinhobão. Agora a responsabilidade aumenta...
    Grande abraço!
    Flavio

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  2. Pois é, segura essa peteca...
    []s,
    Carlos

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